quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Filmes vistos na última semana de 2009


Joe Cocker - Mad Dogs & Englishmen (Joe Cocker - Mad Dogs & Englishmen, EUA, 1971). Dir: Pierre Adidge e Robert Abel. Cotação: Ótimo.



A Comilança (La Grande Bouffe, França/Itália, 1973) Dir: Marco Ferreri. Cotação: Obra-prima.



Os Doces Bárbaros (Brasil, 1977). Dir: Jom Tob Azulay. Cotação: Ótimo.



A Dama das Camélias (La Dame Aux Camelias, França/Itália, 1980). Dir: Mauro Bolognini. Cotação: Ótimo.



A Dupla Vida de Veronique (La Double Vie de Véronique, França/Polônia, 1991). Dir: Krzysztof Kieslowski. Cotação: Bom.



Ricardo III - Um Ensaio (Looking for Richard, EUA, 1996). Dir: Al Pacino. Cotação: Ótimo.



As Testemunhas (Les Témoins, França, 2007). Dir: André Téchiné. Cotação: Regular.

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

TV Brasil x TV Cultura




Recebi com certo temor a criação de mais uma emissora pública estatal, no caso a TV Brasil, do Governo Federal. Temor por conta da dinheirama investida, possíveis desvios financeiros e programação ideológico-politiqueira que o tal fato - a criação de uma TV estatal - pudesse gerar. Passados alguns anos verifico que a minha desconfiança era infundada - pelo menos até agora. A TV Brasil exibe ótima programação, especialmente a aposta no cinema nacional. Dia desse revi "Os Doces Bárbaros" (cópia restaurada), documentário que mostra a turnê dos artistas baianos e capítulos da MPB, Gil, Gal, Caetano e Bethânia, em 1976.

Em contrapartida, a TV Cultura entrou num declínio inexplicável com uma programação medíocre voltada quase toda ela para o público infanto-juvenil. Sinceramente, só se salvam, ainda, o Roda Viva, Metrópolis e Provocações. Nada de novo no front. Sempre acompanhei de perto a TV Cultura que reputo um dos grandes patrimônios públicos do Estado de São Paulo. Mas fui obrigado a mudar de canal. Ótimo seria se a emissora da Fundação Padre Anchieta voltasse aos bons tempos para que o telespectador ainda não contaminado com o lixo veiculado pelas emissoras comerciais tivesse mais uma opção televisiva de qualidade.








domingo, 27 de dezembro de 2009

Feliz Ano Novo a todos os erráticos que assoaram o Nariz de Defunto


Feliz ano novo
No breque, na Brahma, no lar ou na lama
Com cana ou champanhe
No mar, na macumba, no rumo ou na rumba
Nas noites cariocas

Feliz ano novo
No porto, nas docas, nos ratos, nas tocas
Roubando os navios
No sarro, no cio, no lado sombrio
No fio da navalha

Feliz ano novo
Cantando ou calada no blue
Na balada com a boca na trombeta
No grito, na greta, no gol
Na mutreta atrás de gente fina

Feliz ano novo, no sono ou na sina
No chão, na chacina, nos casos de polícia
Na fé, na ferida
No pé, na partida
No ronco da cuíca

Feliz ano novo, na massa, no muque
No bar, no batuque, nos corações vadios
Com festa ou sem festa
Na luta indigesta
Nos fogos de artifício

Feliz ano novo
Cantando ou calada no blue
Na balada com a boca na trombeta
No grito, na greta, no gol
Na mutreta atrás de gente fina

Egberto Gismonti

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

O Poeta é a Mãe das Artes by Torquato Neto


O Poeta é a mãe das armas

& das Artes em geral

alô, poetas: poesia

no país do carnaval;

Alô, malucos: poesia

não tem nada a ver com os versos

dessa estação muito fria.



O Poeta é a mãe das Artes

& das armas em geral:

quem não inventa as maneiras

do corte no carnaval

(alô, malucos), é traidor

da poesia: não vale nada, lodal.



A poesia é o pai da ar-

timanha de sempre: quentura no forno quente

do lado de cá, no lar

das coisas malditíssimas;

alô poetas: poesia!

poesia poesia poesia poesia!



O poeta não se cuida ao ponto

de não se cuidar: quem for cortar meu cabelo

já sabe: não está cortando nada

além da MINHA bandeira ////////// =

sem aura nem baúra, sem nada mais pra contar.

Isso: ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar. ar: em primeiríssimo, o lugar.


Torquato Neto

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Sobre lançamentos literários em Jerimumlândia


LANÇAMENTO LITERÁRIO DE 2009 (Hors concours)
Jorge Fernandes, O Viajante do Tempo Modernista (Maria Lúcia de Amorim Garcia).

MELHOR ROMANCE DE 2009
Fortaleza dos Vencidos, A (Nei Leandro de Castro).

DECEPÇÃO LITERÁRIA DE 2009
Lábios-espelhos (Marize Castro).

MENÇÃO HONROSA
Simples Filosofia (Pablo Capistrano).

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Filmes vistos na semana


Mia Farrow em cena de O Bebê de Rosemary

O Grito (Il Grido, EUA/Itália, 1957). Dir: Michelangelo Antonioni. Cotação: Ótimo.

O Bebê de Rosemary (The Rosemary's Baby, EUA, 1968). Dir: Roman Polanski. Cotação: Obra-prima.

Alice nas Cidades (Alice in den Städten, EUA/Alemanha, 1974). Dir: Win Wenders. Cotação: Ótimo.

O Baile (Le Bal, França/Itália, 1983). Dir: Ettore Scola. Cotação: Ótimo.

Gabbeh (Gabbeh, França/Irã, 1996). Dir: Mohsen Makhmalbaf. Cotação: Bom.

Herbert de Perto (Brasil, 2006). Dir: Roberto Berliner e Pedro Bronz. Cotação: Regular.

A Quase Verdade (La Vérité ou Presque, França, 2007). Dir: Sam Karmann. Cotação: Bom.

Cheri (Cheri, Inglaterra, 2009). Dir: Stephen Frears. Cotação: Fraco.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Autos para quê? Para quem?

Cerimônia ecumênica no auto "Jesus de Natal"
Nunca a política do "pão e circo" [no (o)caso de Jerimumlândia, mais circo que pão], implantada pelo imperador romano Octávio César Augusto, na Roma antiga, foi levada tão a sério em Natal. Refiro-me aos autos natalinos que, neste ano da graça de 2009, são três. Na qualidade de pagador de impostos (prefiro pagar promessas), questiono a dinheirama gasta com esses espetáculos politiqueiros que só servem para alienar a população da cidade. Cada auto estatal não sai por menos de R$ 400 mil. Juntando o montante investido nos dois autos daria para montar quantas peças de teatro? Quantos CDs poderiam ser gravados? com uma verba que, certamente, ultrapassa um milhão de reais. Espetáculos de dança, quantos? E por aí segue.


Considero três autos natalinos (o outro é particular, mas com dinheiro de renúncia fiscal) uma excrescência, um despautério, quando sei que no resto do ano os artistas da cidade são tratados a pão e água. Quando muito. As fundações culturais nunca têm verba para nada. E é incrível como a grana aparece magicamente nos dois últimos meses do ano. Óbvio ululante que atores, bailarinos, músicos e demais profissionais envolvidos nos autos, se lessem este post - algo difícil de ocorrer, pois se trata de um blog sem eira nem beira -, não concordariam com minha opinião. Preferem a esmola estatal sagrada de todo fim de ano a reivindicarem uma política cultural que priorize a dramaturgia, o teatro, a dança e a música produzidos em Natal e no Estado nos doze meses do calendário.


Repito a pergunta: quantos bens culturais materiais e imateriais poderiam ser produzidos com a dinheirama investida nos autos? Espero que alguém pense nisso antes de levantar a bandeira desses espetáculos a céu aberto. Em tempo: dirigi o Auto do Natal 2005, que agora se chama "de Natal", com texto primoroso do poeta, escritor e teórico das HQs, Moacy Cirne. E assumo que estou cuspindo no prato, sim. Tem mais não.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

FORMAS & FÔRMAS


A FORMA

DA

FÔRMA

INFORMA


A

D S O M
I F R E

FÔRMA

DA


FORMA

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Talvez...


Agora não seja a hora da morte

- esconderijo da vida –

mas o pesadelo de um homem nu,

sobre a ponte do abismo,

lançando-se de viés

ao encontro de si mesmo.


Talvez...

este não seja o ocaso de um suicida

- com seu cravo vermelho na lapela –

mas o acaso de um errante

mergulhado em sua impotência

na dúvida de ter, não ter


Amanhã.



Pista


Este louco querer não vem de mim

mas de você.

É febre terçã esse desejo mórbido de consumir-te a mim

mesmo.

Às vezes vira mania; outras tantas, obsessão.

Forte é meu coração que suporta as dores

de um homem de quarenta e cinco anos.

Esta é a única pista possível

para investigação sobre um suicida

acima de qualquer suspeita.


sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

O Rio Grande sem sorte


Vi recentemente no Jornal da Globo uma matéria sobre o sucesso que as bandas e cantores e músicos gaúchos fazem no Rio Grande do Sul sem precisarem sair de seu rincão para o Sudeste maravilha. Daí lembrei como a realidade no Rio Grande pobre é diferente da do seu primo rico. O poema abaixo, do poeta potiguar Bosco Lopes, é a mais completa tradução do Rio Grande cá de cima. Sem carpidagem, please.



Rio Grande



Rio grande da morte

Rio grande sem sorte

Rio grande sem forte

Rio Grande do Norte

Rio pequeno do Norte

Rio finito do corte

Rio seco de sorte

Rio Grande do Norte

Rio sem cais sem porto

Rio você já foi morto

Rio de leito torto

Rio chorando de fome

Rio triste sem nome

Rio cansado que some


(Bosco Lopes)

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Site da UBE/RN no ar

Poeta, escritor e presidente da UBE/RN, Eduardo Gosson


Poetas, escritores, novelistas, dramaturgos, contistas, correi.


É chegada a hora de acessar o site da União Brasileira de Escritores - UBE/RN.


Para acessar é fácil. Basta digitar www.ubern.org.br e se deleitar com o conteúdo.

A entidade é presidida atualmente pelo escritor e poeta Eduardo Gosson.


Ele informa que "o site não está completo, porém vale a pena dar uma olhada".


Até o dia 18 de dezembro todas as seções estarão finalizadas.


Na condição de editor do site, asseguro que o mesmo está ficando decente tanto no visual quanto no conteúdo.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Disperso (1)


Caia na real, Diabinha,
e destrua aquele sentimento psicodélico
composto de cores berrantes
antes que o meu amor preto e branco
pregue-lhe uma peça

sábado, 5 de dezembro de 2009

Mário Bortolotto é baleado em Sampa

Ironia do destino. Vi agora no Jornal Hoje que o dono do blog Atire no Dramaturgo, o paranaense Mário Bortolotto levou três tiros numa tentativa de assalto ao bar do Espaço Parlapatões na praça Roosevelt (centro de São Paulo), na madrugada deste sábado (5). Quatro assaltantes fizeram os frequentadores reféns e atiraram contra o dramaturgo e o músico Carlos Carcarah, segundo o relato de testemunhas. Na manhã deste sábado, Bortolotto passava por cirurgia na Santa Casa, na região central de São Paulo, e seu estado era considerado grave. Carcarah foi atingido na perna e levado ao hospital Sírio-Libanês.

Segundo relatos, passava das 5h e o bar já estava com as portas cerradas. Uma atriz entrava no local quando foi rendida por três homens. Após entrarem, os criminosos renderam quem estava no estabelecimento. Mário Bortolotto teria discutido com o assaltante e foi alvejado por três tiros no local que, além de um bar, abriga um teatro. O socorro às vítimas foi rápido, de acordo com testemunhas.
O escritor e dramaturgo Mário Bortolotto é um das referências do teatro underground do país. É considerado o representante contemporâneo mais próximo ao universo do autor Plínio Marcos, de linguagem cáustica e direta. Fã de filmes de pancadaria, Charles Bronson e Stallone, ele atua no teatro paulistano desde a década de 90. Atualmente um de seus textos “Brutal – Gente Vazia Pode Ser Muito Perigosa” está sendo encenado todas as sextas-feiras no Espaço Parlapatões. Ano passado teve a sua peça "Nossa Vida Não Vale um Chevrolet" adaptada para o cinema tornando-se o filme "Nossa Vida Não Cabe Num Opala". Adaptação que ele acha deplorável.

Em setembro eu o vi no Espaço Parlapatões sempre com as calças metidas dentro dos coturnos sem cadarços. Troquei uma ideia com ele essa semana pelo blog do mesmo. Mário é um outsider, gosta de beber bastante e admira Bukowski e Henry Miller. Pagou o preço por viver perigosamente numa selva de pedra e violência como a Paulicéia. Além de dramaturgo, Bortolotto é louco por blues e rock and roll - como eu - e vocalista da banda Saco de Ratos. Bom, fica a torcida para que ele se recupere logo. Melhoras, cara. De coração.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

A Página Moderna


Meu rock tem rugas!
É um arado
a germinar Joplins, Hendrix e Morrisons chapados.

Meu rock tem oitavas acima!
Nasce de trovões,
revoluções, Vietnãs.

Meu rock tem raios de Iansã!
É inebriante
a olhos míopes de paixão.

Meu rock tem convulsões!
Procria no vômito,
náusea, larva de vulcão.

Meu rock tem distorções!
É tonitruante
a ouvidos eunucos de confissões.

Meu rock tem artrópodes!
Morre de suicídio,
aguilhoado pelo próprio ferrão.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Não há antídoto contra "A Erva do Rato"


Não. Não há antídoto contra a erva do rato, o veneno. Também não há contra A Erva do Rato (Brasil, 2008), filme de Júlio Bressane em cartaz na Sessão de Arte do Cinemark Midway Mall. "Citar Artaud..., via Oiticica, ...cura = veneno" Bressane continua o mesmo. Não se rende ao cinemão de publicitários que assola o Brasil. Seis pessoas na sala e eu pensando na ousadia de um artista acreditar num projeto audiovisual que será totalmente ignorado pela massa medíocre e ignara e TALVEZ elogiado pela crítica e por algumas testemunhas pingadas.
O filme é lento, metafórico, difícil, como todo Bressane que se preze. Livremente inspirado em “A Causa Secreta” e “Um Esqueleto”, de Machado de Assis, funde dois elementos dos contos: a relação do homem com a morte e a incompreensível relação que estabelece com os animais. Ele (Selton Mello) e Ela (Alessandra Negrini) se encontram num cemitério à beira-mar. Os pronomes são seus nomes. Ela, professora, com o pai morto há apenas três dias, não tem mais ninguém no mundo. Diante de tal situação, Ele se propõe a cuidar d’Ela enquanto for vivo. Este é o início de uma estranha relação.
Os dois se trancam numa casa e Ele passa a ditar verbetes de dicionário para Ela escrever. Em seguida, tem início uma longa sessão de fotografias, quando seios, coxas, bumbum e xana de Negrini são mostradas artisticamente. Por mim, preferiria que a sessão fosse mais hardcore. Não sou fã de nu artístico. Depois disso, um impertinente rato começa a roer as tais fotografias. Ele, o homem, ensopa a casa de ratoeiras de todos os tamanhos e nada do rato resolver comer o queijo e se ferrar. O rato quer comer Ela. E come. E como. As sequencias do roedor passeando pelo corpo e fazendo sexo com a protagonista são de arrepiar. Puro Bressane. Ela se excitando e gozando e levando junto as testemunhas do filme. Concluindo, Ele inicia outra sessão de fotos. Dessa vez com um esqueleto, humano. Júlio quis jogar com os dois símbolos que mais causam ojeriza à humanidade: o rato e o esqueleto. Mas, calma. Não é um filme escatológico como o detestável A Mosca, por exemplo, que embrulhou meu estômago.

A Erva do Rato não tem nenhum destaque especial esteticamente falando. Minto, desculpem. Tem sim: Alessandra Negrini. Mas o que interessa para Bressane é a simbologia das imagens. Signos fílmicos eisensteinianos. Em suma, semiótica. É essa palavrinha o sustentáculo da obra bressaniana, desde o clássico udigrudi O Anjo Nasceu. Inclusive a trilha é pelo mesmo maestro e compositor Guilherme Vaz. A bela direção de fotografia está entregue ao mestre Walter Carvalho. Já as atuações de Selton e Alessandra são medianas, frias, distantes, como o filme. Sem fogo. A Erva do Rato não é para todo mundo. É só para quem tem algum negócio com o cinema de Bressane. Particularmente, prefiro a erva do diabo. Ah, este post/isto posto não é uma crítica. Apenas um comentário, crítico.