terça-feira, 29 de março de 2011

"Casa de Violeta" volta ao cartaz no próximo sábado em Caxias do Sul

DRAMATURGIA: Paulo Jorge Dumaresq.

DIREÇÃO: Davi de Souza.

MONTAGEM: Grupo de Teatro da Fundação Marcopolo.

domingo, 27 de março de 2011

Poema de Paulo Leminski


Uma poesia ártica,
claro, é isso que desejo.
Uma prática pálida,
três versos de gelo.
Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não. Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxames de monólogos?).
Sim, inverno, estamos vivos.

PAULO LEMINSKI

quarta-feira, 23 de março de 2011

Oitavo dia em Sampa (18.3)


Foto do espetáculo teatral "Roberto Zucco"


Sexta-feira agitada na Pauliceia. Ambulâncias e viaturas de polícia cortavam as principais artérias do centro da megalópole. Com o espírito renovado do desastre da noite anterior, desci a Consolação, peguei a Ipiranga e depois a 24 de Maio. Fui fazer as últimas compras na Galeria do Rock. Abiscoitei três pérolas: Manfred Mann's Earth Band (The good earth, 1974), Armageddon (Armageddon, 1975) e Roger Hodgson (In the eye of the storm, 1984). Comprei algumas camisetas e caí fora. Destino: Planeta's. Este restaurante está localizado no início da rua Augusta e é extremamente importante para os artistas do teatro paulistano, vez que apoia quase todos os espetáculos apresentados na praça Roosevelt. Parabéns ao proprietário pelo investimento na cultura. Sim, cultura dá retorno. Mas nem todo empresário tem o discernimento de investir em cultura. Lástima. Após o penne com frutos do mar e meia jarra de vinho, voltei para o Hotel. À tarde, fui conferir a estreia de Cópia fiel (Copie conforme, França/Itália/Irã, 2010), o novo filme do cineasta iraniano Abbas Kiarostami. Quem integra o elenco? Ora, a divina Juliete Binoche. Mademoiselle contracena com o ator inglês William Schimell. James Miller (William Shimell) é um filósofo inglês que vai a uma pequena cidade da Toscana apresentar seu livro sobre o valor da cópia na arte. Chegando lá, encontra Elle (Juliete Binoche), uma francesa dona de uma galeria de arte há muitos anos, que vive com seu filho pré-adolescente (Adrian Moore). Eles passam a tarde juntos. Ao mesmo tempo em que vão se conhecendo, começam a desenvolver um complexo jogo de interpretação de personagens. Filme filosófico, ao estilo Eric Rohmer, Cópia fiel faz uma profunda reflexão sobre os valores da vida. Tudo ia muito bem até a telona apagar. Revolta na sala 3 do Espaço Unibanco de Cinema, na rua Augusta. Depois de uma espera de mais de 15 minutos o problema foi solucionado. O que ocorreu foi o absurdo dos absurdos. É inadmissível que isso aconteça num cinema de certo respeito (?) como o Espaço Unibanco. Pensava que aquilo só ocorria no Cinemark Midway Mall, o complexo de cinemas de farofeiros de Natal. Ingresso a R$ 20,00 e o filme em duas partes. Ridículo. Nunca mais frequentarei aquele cinema. À noite, voltei à praça Roosevelt para me despedir. Apostei em Roberto Zucco, montagem pela Cia. de Teatro Os Satyros e direção de Rodolfo Garcia Vázquez. Foi o melhor espetáculo teatral que vi. Rodolfo usou de muita criatividade para dar dinâmica ao espetáculo no pequeno Espaço dos Satyros I. As arquibancadas eram movimentadas pelos próprios atores. Gostei bastante. Roberto Zucco foi um serial killer italiano que matou o pai, a mãe, um policial e uma criança. O espetáculo acaba com Zucco fugindo da penitenciária. O texto é do dramaturgo francês contemporâneo Bernard-Marie Koltès (1948-1989). Na sessão, próximo de mim, estava o ótimo e simpático ator Caco Ciocler. Missão cumprida na Roosevelt, voltei para o hotel.

Morre aos 79 anos a atriz Elizabeth Taylor


O cinema está de luto.

A atriz Elizabeth Taylor morreu nesta quarta-feira aos 79 anos.

Anunciada pela rede ABC e confirmada pelo filho da atriz, Michael Wilding, a morte de Liz Taylor gerou consternação no mundo inteiro.

Wilding soltou o seguinte comunicado: "Nós sempre seremos inspirados pela sua contribuição ao nosso mundo."

A atriz estava internada no centro médico Cedars-Sinai, em Los Angeles, desde o início de fevereiro, com problemas no coração.

Taylor foi diagnosticada em 2004 com Insuficiência Cardíaca Congestiva, uma patologia que impede o coração de bombear sangue oxigenado suficiente para suprir as necessidades dos demais órgãos do corpo, o que gera uma sensação de fadiga, dificuldade de respirar, aumento de peso, entre outros problemas.

Em 2009, Taylor foi submetida a uma cirurgia para substituir uma válvula defeituosa no coração. Ela usava uma cadeira de rodas há mais de cinco anos para lidar com sua dor crônica. Vencedora de dois Oscar, Elizabeth Taylor foi operada de um tumor no cérebro em 1997.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Sétimo dia em Sampa (17.3)



Um dia para esquecer. Nada deu certo. A minha ideia era assistir no Frei Caneca ao filme Inverno da alma (Winter's tale, EUA, 2010). Fui lá e quando cheguei na bilheteria o celuloide havia sido retirado de cartaz. Fiquei puto, mas raciocinei que à noite seria o grande momento de conferir o musical Lamartine Babo, com texto e roteiro de Antunes Filho. Ao chegar no SESC Consolação, pertinho do Hotel Dan, na rua Dr. Vila Nova, o funcionário me informou que o ingresso estava sendo vendido no sétimo andar. Ele se enganou ou entendeu mal e me fez de besta. Na verdade, o espetáculo seria apresentado no auditório localizado no sétimo andar, onde fica o Centro de Pesquisa Teatral (CPT), o bunker de Antunes Filho. Pelo menos, agora, sei onde o mestre trabalha. Além de dois auditórios, o SESC Consolação conta com o Teatro Anchieta, com 320 lugares, onde já vi do Antunes os espetáculos Foi Carmen e Policarpo Quaresma. Desci ao primeiro andar e para o meu infortúnio a funcionária do SESC - com sua cara lisa - me informou que os ingressos estavam esgotados. Inclusive me mostrou o mapa eletrônico com os assentos marcados em vermelho. Naquele momento, a viagem acabou para mim. Do primeiro andar desci para o térreo, onde dois músicos tocavam blues para uma plateia entusiasmada. Enquanto assistia à apresentação, fiquei maquinando o que iria fazer. Acabei indo novamente para a praça Roosevelt afogar a frustração no vinho, no bar Papo, Pinga e Petisco. Não teve jeito, Ghal. Tomei a jarra de vinho e voltei bêbado e puto da vida para o hotel. Ter perdido o musical foi terrível. Foda mesmo. Só Antunes Filho salva. O sono demorou a chegar. Apaga. Black.

domingo, 20 de março de 2011

Sexto dia em Sampa (16.3)


Cidade cara esta Sampa. Cara e louca. Com suas putas belíssimas, sapas, bichas, travecas, michês, mendigos, trombadinhas e descolados de todas as tribos. A cada vinda para cá, novas descobertas se fazem necessárias. A arquitetura desta megalópole é fabulosa. Prédios de fechada fascista estão esparramados por toda a Pauliceia. A quarta-feira foi toda dedicada ao cinema. No período da tarde fui ao Unibanco Arteplex Frei Caneca, no Shopping Frei Caneca, mais conhecido como "gay" Caneca, devido ao número excessivo de homossexuais que o frequentam. O filme degustado foi Corpos celestes (2011), de Marcos Jorge e Fernando Severo. Marcos Jorge é o diretor do excepcional Estômago (Brasil/Itália, 2008). Estrelado por Dalton Vigh e apresentando a estonteante atriz Carolina Holanda, o filme ficou aquém das minhas expectativas. Não convém aqui me aprofundar na obra. Porém, o filme é bem fraco. Após o celuloide brazuca, passei na Livraria Cultura para comprar o livro Nossa vida não cabe num Chevrolet, do Mário Bortolotto, e aproveitei para fazer hora, porque, à noite, no CineSESC, tinha pela frente simplesmente uma obra-prima restaurada de Luchino Visconti: Violência e paixão (Gruppo de famiglia in un interno/Conversation piece, Itália/França, 1974), com Burt Lancaster (atuação irretocável) e a dama do cinema italiano Silvana Mangano. Trata-se de um dramão - sem conotação de dramalhão -, envolvendo um professor aposentado e colecionador de obras de arte (Burt Lancaster) e seus inquilinos desregrados. Filmaço cinco estrelas. Não é todo dia que se tem o privilégio de assistir a uma película de Visconti na telona. Aliás, é preciso sublinhar o trabalho excepcional que o SESC realiza em São Paulo, com o CineSESC e com os teatros da instituição. O preço do ingresso do filme? Apenas R$ 8,00. Depois, "desci a rua Augusta a 120 por hora" e tomei duas brejas no Parlapas. Soninho.

sábado, 19 de março de 2011

Quinto dia em Sampa (15.3)


No final da manhã cheguei na Livraria Cultura, localizada no Conjunto Nacional, na avenida Paulista. Levei comigo sonhos e desejos de DVDs e livros. Com o mundo literário a meus pés, dei uma geral no que me interessava (poesia, prosa, dramaturgia) e também no universo cinematográfico. Tratei logo de adquirir os DVDs Almoço em agosto (Pranzo de ferragosto, Itália, 2008), delícia de comédia italiana, O último adeus (Last orders, Inglaterra/Alemanha, 2001) e Sede de paixões (Törst, Suécia, 1949), este último dirigido por Ingmar Bergman, o cineasta das obras-primas. Encomendei ainda a peça Nossa vida não cabe num Chevrolet, do Mário Bortolotto, que tenho certo apreço, não a ponto de considerá-lo um gênio, como Gianfrancesco Guarnieri, Nelson Rodrigues e Plínio Marcos. Na Cultura, fiquei frustrado porque o show da Tito Martino Band, que ocorre/ocorria sempre às terças-feiras, ao meio-dia e meia, gratuitamente, no Teatro Eva Herz, na própria Livraria, não estava em cartaz. O teatro passa por reforma. Um certo vendedor me disse que a temporada do renomado clarinetista recomeçará em maio. Provavelmente. Ainda no Conjunto Nacional, mais especificamente na Caixa Mostra Cultural, vi uma retrospectiva do artista plástico e serígrafo capixaba, Dionísio del Santo. A arte de Dionísio não me impressionou. Depois, parti para a Reserva Cultural e apostei na comédia italiana O primeiro que disse (Mine vaganti, Itália, 2010), de Ferzan Ozpetek. Pelo nome deve ser descendente de turco. Adorei. Em que pese a temática gay, o filme é divertidíssimo. Quem me conhece sabe que o cinema italiano é o meu preferido. Em segundo lugar vem o francês. À noite, vi mais uma peça no Espaço Parlapatões. À meia-noite um solo de sax na minha cabeça é uma comédia antiga do Mário Bortolotto. Durante 55 min. (tempo perfeito para uma récita), os atores Henrique Stroeter (Billy) e Fábio Esposito (Jesse) arrancaram muitas risadas da plateia. Trilha sonora movida a rock'n roll e projeções de imagens deram certa dinâmica à peça. Mas essa ainda não foi a récita que me arrebatou em Sampa. Quem sabe Lamartine Babo, do Antunes Filho, não me impressione. Até agora tudo que vi do mestre gostei muitíssimo. Quinta à noite promete.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Quarto dia em Sampa (14.3)


No final da manhã da segunda-feira, desci mais uma vez a rua da Consolação rumo à praça da República. Defronte à praça fica a rua 24 de maio, a da Galeria do Rock. O templo do rock em Sampa já não tem aquele agito de outras épocas. Mesmo assim, ainda conserva boas e caras lojas de discos de rock. O meu foco, claro, anos 60 e 70. Discos à mancheia. Coisa de louco. Na Galeria, o pesquisador ou mesmo o consumidor de discos de rock encontra tudo. De A a Z. Adquiri o CD Days may come days may go (1975), dos ensaios do álbum Come taste the band (1975), da banda britânica Deep Purple. Uma raridade que me custou R$ 55,00. Great! Saí da Galeria safado da vida e voltei para o hotel. À tarde, na Reserva Cultural, na avenida Paulista, conferi Em um mundo melhor (Haevnen, Dinamarca/Suécia, 2010), de Susanne Bier, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. A película me encheu os olhos, em que pese o crítico André Barcinski, da Folha de São Paulo, ter desancado a obra. Saí da sala com a alma lavada. Até que enfim assistira a um filme de respeito. Na segunda-feira, na praça Roosevelt, só funcionou o Espaço dos Satyros 1. Fui lá heroicamente apostar minhas fichas na peça surrealista - conforme o diretor - Assurbanípal Magic Club. A récita - como diria a crítica Bárbara Heliodora- é medonha. Passa-se num clube de swing. E os frequentadores (personagens) da tal casa dão depoimento sobre o que os levou/leva a frequentar um espaço com aquela peculiaridade. Ah, antes da peça começar, um mágico pede para cada espectador escrever seu nome e uma fantasia sexual num papel para tentar advinhar no fim da peça. Pura picaretagem. Mais R$ 30,00 jogados na lata do lixo. É incrível a tentativa de vender ideias recicladas como se fossem novidades. O teatro surrealista é da primeira metade do Século 20. O jeito foi tomar uma breja e dormir.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Terceiro dia em Sampa (13.3)


No domingo de pernas de fora, na expressão de Nelson Rodrigues, desci a rua da Consolação em direção à estação de metrô República. Destino: feirinha do bairro da Liberdade. Esperava mais da popoular feira instalada no bairro nipo-brasileiro-paulistano. Ainda bem que encontrei uma loja de CDs/DVDs com alguns filmes de arte ótimos. De cara, adquiri Mamãe faz 100 anos (Mamá cumple cien años, Espanha/França, 1979) do cineasta espanhol Carlos Saura, e O homem que amava as mulheres (Homme qui aimait les femmes, L', França, 1977), do mestre francês François Truffaut. Na volta, me detive na também tradicional feirinha da Praça da República. Depois, voltei para o hotel para descansar. Às 18 horas, começou o espetáculo experimental 666Ponto9Quase7, no Teatro do Ator, na praça Roosevelt. Fui lá prestigiar as atrizes Ellen Regina e Dafne Rufino que representaram na peça Os patrões, de minha autoria, no ano da graça de 2009, numa montagem da Companhia Artística En'cena, sediada em Carapicuíba, na grande São Paulo. A temporada de Os patrões ocorreu em Osasco e fui conferir. Gostei. Logo após o experimental das minhas amigas, encarei o convencional Rosa vermelha, no Studio 184. Trata-se de um espetáculo didático sobre a vida da ativista política polonesa Rosa Luxemburgo. Montagem regular. Tomei ainda duas brejas no Espaço Parlapatões e retornei para o hotel. Bye, bye, domingo.

terça-feira, 15 de março de 2011

Segundo dia em Sampa (12.3)


Se no primeiro dia em Sampa o tempo colaborou com este turista quase acidental, no segundo a neblina tomou conta da terra da garoa. Mesmo assim me enchi de coragem e tomei o primeiro metrô para a Pinacoteca do Estado. Exposição fotográfica do russo Aleksandr Ródtchenko, um dos fundadores do construtivismo. Esse fotógrafo foi amigo de Maiakóvski e de outros poetas e artistas russos em pleno regime soviético. Excelente exposição. Como a garoa me irritou bastante, resolvi voltar para o Hotel Dan e deixei o Museu da Língua Portuguesa para outro dia. À tarde, conferi o filme A árvore (L'arbre/The tree, França/Austrália, 2010), da cineasta Julie Bertucelli. Confesso que achei apenas bom. Esperava mais porque assistira dessa grata revelação do cinema francês a um filme magnífico chamado Desde que Otar partiu (Depuis qu'Otar est parti, França/Bélgica, 2003) ambientado na República da Geórgia e em Paris. A árvore se passa na zona rural da Austrália e apresenta a bela atriz francesa Charlotte Gainsbourg no papel principal. Noite. Com o espetáculo Roberto Zucco custando R$ 40,00,- como consumir cultura custa caro -, no Espaço dos Satyros 2, preferi ir ao Centro Cultural São Paulo para ver o mediano O grande grito, pela metade do preço. Sinceramente, não valeu a pena. Na volta, vi duas adolescentes se acariciando na estação do metrô. É incrível como as meninas do Brasil se iniciam no lesbianiasmo sem se darem conta da sua própria sexualidade. Sampa nesse sentido liberou geral. Vale tudo. Vade retro. Se alguém heterossexual se atrever a dizer qualquer coisa é capaz de ser preso. Sono.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Primeiro dia em Sampa (11.3)


Voo tranquilo na madrugada, com a novidade GOL: cardápio a bordo. Agradeci e fiquei rindo sozinho. Todas as opções são pagas, claro. Comi um pacotinho de amendoim salgado e tomei suco de laranja oferecidos pela empresa aérea. Mais pobre impossível. Cheguei no início da manhã a Cumbica e não consegui mais dormir. À tarde, já caí em campo e fui dar com os costados no Cine Belas Artes. Assisti a Um lugar qualquer (EUA, 2010), da Sofia Coppola. Comédia dramática sem maiores pretensões a não ser sátira humorada sobre a vida de um galã de Hollywood interpretado pelo ator Stephen Dorff. Mais tarde, à noite, conferi no Espaço Parlapatões um musical intitulado Mudaram as estações. Considerei a direção frouxa. Alguns microfones também falharam. Putz, como as pessoas em Sampa tossem nos teatros e nas salas de cinema. Mal sabem elas que isso interfere na obra artística. Fechei o primeiro dia na Pauliceia decepcionado. No dia seguinte, sábado, teria mais. Ah, o melhor do dia foi o tempo firme.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Manhã em Cunhaú

A Barra de Cunhaú como ela é


Documento da passagem de Ariano Suassuna por Cunhaú


Manhã que se arremessa vulgar
ante o quebrar da Barra de Cunhaú
e a primeira nau a se bronzear
sob a ferida do sol.

No mirante da história
recolho impressões inúteis sobre coisas, lugares, personas.
Este mar é inconsequente porque lisérgico.
Suas águas transcodificam camarões, gingas, tatuís
num vai e vem de indecisas ondas.

Ao escrivão prenhe de dias banais
resta refazer suas crônicas
encharcadas de vinho velho
e lançá-las ao mar
no afã de encontrar vagos leitores míopes.