Poemas de Jorge Luis Borges
EVERNESS
Só uma coisa não há: e esta é o olvido.
Deus, que salva o metal, e salva a escória,
cifra em Sua profética memória
as luas que serão e as que têm sido.
Já tudo fica. A seqüência infinita
de imagens que entre a aurora e o fim do dia
teu rosto nos espelhos deposita
e essas que irá deixando todavia.
E tudo é só uma parte do diverso
cristal desta memória: o universo.
Não têm fim os seus árduos corredores,
e se fecham as portas ao passares;
e só quando na noite penetrares,
do Arquétipo verás os esplendores.
UM CEGO
Não sei qual é a face que me mira
quando miro essa face que há no espelho;
e desconheço no reflexo o velho
que o escruta, com silente e exausta ira.
Lento na sombra, com a mão exploro
meus traços invisíveis. Um lampejo
me alcança. O seu cabelo, que entrevejo,
é todo cinza ou é ainda de ouro.
Repito que perdi unicamente
a superfície vã das simples coisas.
Meu consolo é de Milton e é valente,
porém penso nas letras e nas rosas.
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol-posto.
A CHUVA
A tarde bruscamente se aclarou,
porque já cai a chuva minuciosa.
Cai e caiu. A chuva é só uma coisa
que o passado por certo freqüentou.
Quem a escuta cair já recobrou
o tempo em que a fortuna venturosa
uma flor lhe mostrou chamada rosa
e a cor bizarra do que cor tomou.
Esta chuva que treme sobre os vidros
alegrará nuns arrabaldes idos
as negras uvas de uma parra em horto
que não existe mais. A umedecida
tarde me traz a voz, a voz querida
de meu pai que retorna e não é morto.
Jorge Luis Borges
Paulo Jorge, meu querido
ResponderExcluirQue poeta você escolheu hoje!
Que seleção você fez para nós!
Jorge Luis Borges...
Everness:
Só uma coisa não há: e esta é o olvido.
Um cego:
Penso que se pudesse ver meu rosto
saberia quem sou neste sol posto.
A chuva:
...a voz querida do meu pai que retorna e não é morto.
Ai...
Forte abraço, amigo!
Obrigado, pelo incentivo, amiga.
ResponderExcluirIsso só me dá força para continuar trilhando o caminho da literatura e da arte.
Abração e ótimo feriado.
Paulo Jorge...
ResponderExcluirAs palavras deste Jorge são preciosidades que agradeço sempre por conhecer.
Everness é algo tão lindo que nada digo, só consigo mesmo é me emocionar.
Começou a chover agora aqui na Ilha assim que comecei a ler...
Beijos...
É de deslocar a mandíbula, ficar de queixo caído! Sempre. Nem sei como ouso flertar com a poesia...
ResponderExcluirGrande abraço, Paulo Jorge.
Pólen, a poesia de Luis Borges é verniz para destacar a vida humana e a natureza.
ResponderExcluirSem palavras.
Em tempo: faz um calor terrível em Natal.
Beijos e quando vier mantenha contato.
Marcantonio, esse Borges não é fácil mesmo.
ResponderExcluirUm dos grandes leões da literatura em todos os tempos.
Só nos resta aplaudir sua alta poesia.
Obrigado pela visita.
Abração.