segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Restô privê


O vetusto cliente do restô privê degustava pantagruelicamente sua lauta refeição,

enquanto uma criança famélica e maltrapilha o observava com um pirulito na boca da qual escorria um líquido vermelho rubi.

Encontro de destinos separados por um vidro à prova de a-feto.

Apartheid na quente manhã tropical urbana.

As digitais da indigitada sem nome escorriam pelo vidro com o desígnio de chamar a atenção do glutão.

Debalde!

Naquele espaço gastronômico não havia toques de ternura.

Só pecado da gula.

Talvez dívidas.

Nunca dádivas.

Sequer dúvidas.

2 comentários:

  1. Paulo Jorge, Paulo Jorge, que riqueza de texto!
    Meu Deus...
    Um vidro à prova de a-feto...
    O apartheid...
    O pecado da gula...
    Dívidas, dádivas, dúvidas, em proporções tão adequadas para uma conclusão magnífica!
    Emocionei-me demais, meu querido amigo, grande escritor!
    Abraço bem apertado da
    Zélia

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  2. talvez tudo, poeta.
    saudades de você, paulo poeta.
    e essa inquitude, só sua.

    compartilhada, como um bocado de pão.

    beijão,

    r.

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