Já falei sobre isso aqui no blog. Há uma corrente de “Dramaturgos” que estão pregando o "processo colaborativo" como o meio mais moderno de se escrever pra teatro e o escambau. Eles inclusive dizem que o autor escrevendo solitariamente está fadado a desaparecer. E para defenderem com mais estupidez ainda o seu ponto de vista, passaram a chamar os autores que escrevem sozinhos em seus cantos possíveis de “autores de gabinete”. Definição horrível por si só, ainda mais quando usada pejorativamente como é o caso.
No debate que participei sobre “Dramaturgia Interativa”, houve tentativas de defesa do "Processo Colaborativo", como já era de se esperar. E começaram a usar essa definição chinfrim ad nauseam. Quando foi minha vez de falar, já deixei claro minha posição. Disse que não acredito nessa merda e que escritores pra mim são solitários crônicos, pelo menos no momento da criação e arrematei dizendo: “E não me considero um autor de gabinete. Ninguém pode dizer que sou isso. Sou na verdade um autor de kitchenete. É onde escrevo. Espero um dia conseguir ser um autor de um apartamento de dois quartos e depois um autor de casa de campo. Mas por enquanto, sou apenas um autor de kitchenete”.
E isso me remeteu a um ótimo livro sobre o assunto (“O Lugar do Escritor” de Eder Chiodetto). Nesse livro, Eder entrevistou escritores e fotografou os lugares onde eles escrevem. Há de tudo. Desde o caos atulhado de livros de Ferreira Gullar, passando pelo pequeno quarto de Régis Bonvicino até o show-room de Paulo Coelho (definição mais que apropriada de Douglas Kim).
Escritores vão continuar escrevendo, sozinhos. E sem a interferência de ninguém. Editores, amigos, esposas, atores. Eles ficam longe nesse momento. O escritor é um exibicionista tímido. Só quando está sozinho, ele consegue se desnudar. Quem quiser ver o resultado, vai ter que esperar a Polaroid desse momento. Na livraria mais próxima.
MÁRIO BORTOLOTTO (Dramaturgo)
NOTA DO BLOG: Mais um modismo de "gabinete". Passageiro como todo modismo. Outro termo que não suporto é "dramaturgista". É bem a cara dessa turminha "colaborativa". Esse povo é que vai sumir do mapa. Do mapa cultural. Pau neles, Mário.
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