sábado, 4 de junho de 2011

Na boca


Na boca

Sempre tristíssimas essas cantigas de carnaval
Paixão
Ciúme
Dor daquilo que não se pode dizer

Felizmente existe o álcool na vida
E nos três dias de carnaval éter de lança-perfume
Quem me dera ser como o rapaz desvairado!
O ano passado ele parava diante das mulheres bonitas
E gritava pedindo o esguicho de cloretilo:
- Na boca! Na boca!
Umas davam-lhe as costas com repugnância
Outras porém faziam-lhe a vontade.

Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados

Dorinha meu amor....
Se ela fosse bastante pura eu iria agora gritar-lhe como o outro:
- Na boca!Na boca!

Manuel Bandeira
(1886-1968)

7 comentários:

  1. Paulo,

    Bandeira conseguia o que muitos passam a vida toda perscrutando: depurar o cotidiano para expor seu lirismo permanente.

    Um forte abraço!

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  2. Acertou o alvo, Nanini.
    Perfeito!
    Abraço grande.

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  3. esse bandeira tem uma lábia... me deixa de boca aberta!

    outro beijo, duminha.

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  4. Bandeira pra vida inteira...
    Na veia, cada poema incomedido dele...

    Abraço poético,
    Pedro Ramúcio.

    Pêésse: a propósito, se me permite:

    PASÁRGADA PERDIDA

    Cismo que em algum lugar -
    Nada se parece mais com um Paraíso -
    Existe uma Pasárgada perdida
    Dando Bandeira pra mim.

    (Dedicado a Nina Rizzi)

    (Pedro Ramúcio)

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  5. Dom Pedro, esse poema dedicado a Nina Rizzi é "bão" demais. A cada dia aprecio mais a sua poesia, a de Nina Rizzi e a de Bandeira. Este trio é parada dura. Bjs na alma, poeta de Valadares.

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  6. esse é um dos meus poemas preferidos. assim como os ramos do cio.
    beijos :)

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