Ele representa a alma da escola de samba. Na avenida, multiplica-se para despertar o público para o espetáculo de cores, sons e sensações. É o sambista a razão de ser da agremiação carnavalesca que sacode a avenida provocando um tsunami sonoro. No mar de alegorias, o anonimato do sambista fica mais evidente. Está junto e misturado a seus pares de carnaval. Perde até a individualidade para a bateria soar como um só instrumento uníssono.
Mestre Lucarino rege do céu a orquestra percussiva. Os tambores abafam gritos de mágoa. Suores misturam-se às águas celestiais. Cabrochas desabrocham em volúpia despertando desejos. A escola desliza no palco no bailado da passista. O samba ferve na garganta e nos pés. A harmonia é quesito obrigatório no asfalto, mesmo que o barraco esteja em total desarmonia. Na apuração, alguém vai chorar de dor ou de alegria. No fim, restarão cinzas para serem jogadas no Potengi.
O relógio marca o tempo e palavras de ordem dão celeridade ao andamento rítmico da escola. A fantasia mascara o duro cotidiano da comunidade imersa em dívidas e dúvidas para além do carnaval. Mas a alegria precisa ser programada para o desfile como um preciso cronômetro. Afinal, foram meses de labuta nos barracões apartados do zinco. E agora é chegada a hora da gente bronzeada mostrar seu valor para o moço e o velho, o pobre e o rico, o nativo e o gringo.
Na dispersão, os sambistas se unem para celebrar a grande ilusão. Realidade só no dia seguinte, quando as dívidas começarão a ser pagas e as dúvidas dirimidas. Restarão as dádivas do carnaval, esta transgressão romano-tupiniquim que embriaga a gente brasileira nascida para sonhar, sambar, amar e viver de esperança... e de folia momesca. Será que o entrudo acaba mesmo na quarta-feira de cinzas? Com a palavra, o sambista. Pensando bem, o espetáculo não pode parar.
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