sábado, 13 de fevereiro de 2010

Uma noite com os Manicacas no Frevo

O jornalista Sérgio Vilar era só alegria puxado pela namorada
O Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa explica o verbete manicaca, em seu sentido restrito, como um “indivíduo apalermado, atoleimado, palerma”. Ou mesmo “tratante, covarde, fracalhão, mucufa e mutanje”. Há que se respeitar o Dicionário Aurélio, mas no Rio Grande do Norte o vocábulo manicaca, em seu sentido lato, designa um indivíduo, digamos, dominado ou governado pela mulher. Em verdade, todo homem comprometido tem sua porção manicaca.

O termo de conotação jocosa ganhou mais notoriedade no burgo cascudiano com a criação do bloco carnavalesco Manicacas no Frevo há exatos cinco anos. A idéia surgiu no Bar da Nazaré, tradicional reduto boêmio nas adjacências do Beco da Lama, localizado no Centro Histórico. Os produtores culturais Dorian Lima e Julio César Pimenta, mais o artista plástico Fábio Eduardo, responsável pela arte da camisa do bloco neste ano momesco de 2010, farreavam havia dois dias. Até aí tudo bem se não fosse pelo fato do telefone celular de Fábio Eduardo tocar insistentemente. Era a sua primeira-dama exigindo a localização geográfico-etílica do marido. Dorian Lima e Julio César notaram a pressão e a “rédea curta” e apelidaram o amigo de manicaca. Naquela mesma farra surgiu a ideia do bloco.

Hoje os Manicacas no Frevo movimentam o carnaval no circuito Centro Histórico arrastando artistas, jornalistas, intelectuais e pseudo-intelectuais, afora simpatizantes da área cultural. Há três anos inserido na programação oficial do carnaval promovido pela Prefeitura de Natal, nesse período o bloco só fez conquistar novos adeptos. Ontem (12), ao cair da tarde, cerca de 300 manicacas seguiram orgulhosos arrepiando os paralelepípedos revestidos de asfalto da velha Cidade Alta. Sós, mas com a autorização da parceira, ou acompanhados pela respectiva, os manicacas se aglomeraram no Bardallos Comida & Arte para experimentar o doce sabor anárquico e transgressor do carnaval. Até o Rei Momo Charles Campos e a Rainha Édila Dias do carnaval 2010 de Natal prestigiaram o bloco com suas presenças luxuosas.

Uma banda manicaca composta por 15 músicos puxou o cordão imaginário e lá se foi a multidão seguindo itinerário histórico-cultural. Ao passarem em frente à casa do arcebispo metropolitano de Natal, Dom Matias Patrício de Macêdo, alguns manicacas mais atrevidos acenaram para o religioso, que respondeu de maneira tímida, como cabe a um homem da sua posição. Até o galo da Igreja Santo Antônio deve ter despertado para se juntar ao coro dos contentes. No Bar da Nazaré, onde tudo começou, uma parada estratégica para dar passagem a outro bloco que descia a rua Vigário Bartolomeu em direção ao palco montado em frente à Procuradoria Geral do Município. O palco do Manicacas recebeu a Orquestra Boca Seca, a banda Arrelia e o cantor Maguinho da Silva.

“Hoje dá para se brincar o carnaval em Natal. Com a revitalização da folia de momo na capital e o caráter multicultural da festa, a tendência é que a população opte por permanecer na cidade“, disse o diretor do bloco Julio César Pimenta. Na sua visão periférica, a Prefeitura acertou ao não contratar artistas renomados de outras plagas para animar o carnaval: “a medida foi positiva, porque permitiu a contratação de músicos da cidade”.

Para se ter noção do acerto na aposta no artista local, mais de mil músicos estão envolvidos nos festejos carnavalescos natalenses distribuídos nos seis circuitos. Dados oficiais da Fundação Cultural Capitania das Artes dão conta de que este ano o número de blocos dobrou, passando de 75 no ano passado para 150 em 2010. Não é sem razão que o tema da folia de momo este ano é “Carnaval em Natal, Você tá em casa”.

Manicaca do Ano

Imbuída do mais nobre propósito carnavalesco, a diretoria do Manicacas no Frevo elegeu o jornalista do Diário de Natal, Sérgio Vilar, como o Manicaca do Ano. Júlio César Pimenta explica: “Sérgio só frequenta o Beco da Lama acompanhado da namorada. Aí não teve jeito. Foi eleito o Manicaca do Ano”.


Devidamente condecorado com coroa, rolo de macarrão, pulseira e corrente, puxada pela musa, Sérgio Vilar declarou que recebeu a homenagem semi-orgulhoso, assumindo a partir daquele momento o epíteto de manicaca. “Eu sou o mais novo jornalista premiado do Diário de Natal”, brincou o repórter. Em contrapartida, outro frequentador inveterado do Beco da Lama, o artista plástico Marcelus Bob, eleito o Manicaca de Honra do bloco, não compareceu ao evento nem mandou representante.


Paulo Jorge Dumaresq

2 comentários:

  1. Carnavais diferentes os nossos, senhor dramaturgo!! Mas amanhã eu juro que vou tomar umas cervejinhas enquanto vejo as cabrochas requebrando na avenida. Abraços!

    ResponderExcluir
  2. carnaval é bom mas é ruim.
    poeta, fica difícil pra um sujeito que nasceu com dois pés esquerdos gostar de carnaval. além do mais, a industrialização de um lance que deveria ser muito especial, transfromou-se nisso que se vê por aí.
    tudo bem.... eu sei... tenho vocação pra vidraça.
    abração do seu amigo
    roberto.

    ResponderExcluir