Banner do seminário "Lei do Livro" promovido pela UBERN
Participei, na última quinta-feira, de mais um evento organizado pela União Brasileira dos Escritores do Rio Grande do Norte – UBERN. Tratava-se, na ocasião, de uma comemoração antecipada ao dia mundial do livro e do autor, que se comemora no dia 23 de abril, além de um seminário acerca da Lei do Livro, a Lei estadual Henrique Castriciano, nº 9.105, de 09 de junho de 2008.
Essa Lei, que ajudamos pessoalmente a criar quando estávamos à frente daquela entidade de escritores (hoje, tão bem comandada por meu colega e amigo Eduardo Gosson), dispõe sobre uma específica política estadual do livro e da leitura no Rio Grande do Norte, além de outras providências correlatas. Algo essencial à cultura de nosso Estado e que tem sido cumprida em outros lugares, como no Rio Grande do Sul. E foi dela, novamente, que nos dispusemos a tratar no debate travado no auditório da querida Aliança Francesa de Natal.
O público qualificado, apesar de reduzido – como muitas vezes acontece quando se trata de se discutir seriamente questões relativas à nossa cultura –, prestigiou o evento com indagações pertinentes e algumas boas provocações. Presidindo a mesa, Eduardo Gosson iniciou a conversação da qual fiz parte, juntamente com uma ilustre professora representante da Secretaria de Educação, além de Chico Alves (o editor mais antigo em atividade no Estado) e a Senhora Rosemary Guillén, representando uma das maiores livrarias do Rio Grande do Norte. O Deputado Fernando Mineiro (um dos principais realizadores da lei) também havia sido convidado, porém, algum motivo de ordem superior evitou a sua presença esperada por todos.
Tive a oportunidade de iniciar o debate e estabeleci, de logo, uma pequena retrospectiva acerca da história dessa lei, tão desejada por nós, escritores, e, certamente, essencial ao conjunto de leitores e potenciais leitores de nossa terra. Ao tempo em que concluí o retrospecto, mostrando o quanto foi árdua essa tarefa da elaboração e da criação da lei, mostrei que a mesma ainda não tinha sido posta em prática, efetivada pelos poderes públicos. De fato, tem-se que lembrar que a Governadora à época não sancionou a lei, que teve de ser promulgada e publicada pela nossa Assembleia Legislativa. Ou seja, de cara a governante que recentemente deixou o cargo demonstrou que a cultura não era prioridade de sua administração.
E depois, os exemplos (ou maus exemplos) da inexecução da Lei Henrique Castriciano e o desprezo pela cultura vieram em massa. Bibliotecas vilipendiadas, esquecidas, maltratadas. Patrimônios públicos de natureza cultural, idem, além da ausência de incentivos aos escritores, publicações em número próximo a zero e um orçamento (definido em R$ 500.000,00 – quinhentos mil reais) não utilizado a contento para o cumprimento dos dispositivos da Lei, que se propunha “incrementar a produção editorial estadual”, “estimular a produção dos autores naturais do Estado”, “preservar o patrimônio literário, bibliográfico e documental do Estado”, “proteger os direitos intelectuais e patrimoniais dos autores e editores”, “oferecer condições necessárias para que o mercado editorial do Estado possa competir no cenário nacional e internacional”, dentre outras inúmeras tratativas do assunto relativo ao livro e à leitura no Rio Grande do Norte.
Todos foram quase uníssonos em reconhecer que, do ponto de vista dos poderes públicos (já que a iniciativa privada cumpriu bem o seu papel, com boas e novas editoras e com os escritores formando um pequeno exército na defesa de seus produtos), não houve avanços quanto à nova legislação. A representante da Secretaria de Educação, Professora Lúcia, ensaiou a demonstração de inúmeros projetos da Pasta, mas pude verificar, da conversa mais ampla, que algumas das medidas a serem implementadas nesse campo não vêm sendo tratadas da melhor forma pela outra pasta, a da Cultura, leia-se: Fundação José Augusto.
Apesar de tudo, fiquei contente com as exposições de Chico Alves, que demonstrou um razoável crescimento no mercado do livro no Brasil e mostrou o belíssimo trabalho da Editora da UFRN, ao tempo em que propugnou pela criação do Instituto do Livro do RN e de nosso do fórum do livro, e de Rosemary Guillén, que foi responsável em sua livraria, no ano de 2009, por nada mais, nada menos que 138 lançamentos de livros de autores potiguares. A grande curiosidade que merece reflexão: Rose afirmou que, desse número, 80,9% (oitenta vírgula nove por cento) foram de autores e editores independentes. Ou seja...
* Extraído do blog "O Teorema da Feira", de Lívio Oliveira.
Olá, Paulo Jorge!
ResponderExcluirPostagem importantíssima!
Temos de pensar na vida prática da poesia, ainda que pareça, para alguns, paradoxo...
Obrigada!
Um abraço