Ator, autor, diretor teatral e poeta francês, Antonin Artaud
TUTUGURI
Rito de Sol Negro
E lá embaixo, no pé da encosta amarga,
cruelmente desesperada do coração,
abre-se o círculo das seis cruzes
bem lá embaixo
como se incrustada na terra amarga,
desincrustada do imundo abraço da mãe
que baba.
A terra do carvão negro
é o único lugar úmido
nessa fenda de rocha.
Rito é o novo sol passar através de sete pontos antes de explo -
dir no orifício da terra.
Há seis homens
um para cada sol
e um sétimo homem
que é o sol
cru
vestido de negro e carne viva.
Mas este sétimo homem
é um cavalo,
um cavalo com um homem conduzindo-o.
Mas é o cavalo
que é o sol
e não o homem.
No dilaceramento de um tambor e uma trombeta longa
estranha,
os seis homens
que estavam deitados
tombados no rés-do-chão,
brotaram um a um como girassóis,
não sóis
porém solos que giram,
lótus d’água,
e a cada um que brota
corresponde, cada vez mais sombria
e refreada
a batida do tambor
até que de repente chega a galope, a toda velocidade
último sol,
o primeiro homem,
o cavalo negro com um
homem nu,
absolutamente nu
e virgem
em cima.
Depois de saltar, eles avançam em círculos crescentes
e o cavalo em carne viva empina-se
e corcoveia sem parar
na crista da rocha
até os seis homens
terem cercado
completamente
as seis cruzes.
Ora, o tom maior do Rito é precisamente
A ABOLIÇÃO DA CRUZ
Quando terminam de girar
arrancam
as cruzes do chão
e o homem nu
a cavalo
ergue
uma enorme ferradura
banhada no sangue de uma punhalada.
ANTONIN ARTAUD, Le Mômo (1896 - 1948)
Texto-poesia retirado de uma transmissão radiofônica - intitulada "PARA ACABAR COM O JULGAMENTO DE DEUS" - realizada por Artaud (como autor e narrador) e por alguns de seus amigos (Roger Blin, Marie Casarès e Paule Thévenin), que além de narrarem o ajudaram na produção dos efeitos sonoros durante a transmissão.
Estranhamente belo, belamente estranho. Por fim achei, neste lugar, "outras palavras"...
ResponderExcluirObrigada! Se tiver mais, poste, por favor!
Um abraço.
Como um oráculo misterioso. Uma hemorragia de imagens inquietantes. Aqui comigo, lembrei de Blake, em O Livro de Urizen.
ResponderExcluirAbração!
Nivaldete e Marcantonio, depois de ler qualquer texto de Artaud respiro fundo e passo bons minutos recompondo-me da hecatombe poética.
ResponderExcluirComo disse Pessoa: "Só a loucura é grande".
Aquele abraço.
confesso: bebi poouco, pouquíssimo, da água de artaud...
ResponderExcluirsacio-me aqui.
bela escolha, poeta da barra do potengi.
Maravilhoso
ResponderExcluirBelíssimo
Bela escolha
abraço!
Roberto e Juan, grato pela visita e comentário.
ResponderExcluirÓtimos dias.
Abração.
Essa imagens aguçam até o sexto sentido...
ResponderExcluirQue maravilha!
Beijo.
Imagens surreais, Cris.
ResponderExcluirValeu a visita.
Bjs.
Amigo Paulo Jorge
ResponderExcluirQue poema soberbo! Estranhamente belo... Onírico... Surreal... Tira-me do lugar de conforto: deixa-me agitada, inquieta...
Demais!!!
Você, meu querido amigo, sabe das coisas...
Um enorme abraço!!!
Querida amiga, obrigadíssimo pelo comentário.
ResponderExcluirEstava sentindo sua falta na blogosfera.
Paz e luz sempre.
Abraço apertado.
Alucinatório...
ResponderExcluirlucidamente um meio termo entre extremos dogmais.
Um abraço, Paulo.
Paulo Jorge, meu querido
ResponderExcluirAo ler seu simpático comentário lá no meu cantinho, fiquei muito, mas muito sensibilizada com o fato de você ter notado minha ausência, ainda que por poucos dias.
Venho gradecer e encontro a mesma observação, registrada também aqui... Coisa de amigo!!!
De fato tive alguns contratempos que, felizmente, já foram superados...
Muito obrigada!
Imenso abraço!!!
De nada, Zélia.
ResponderExcluirNem é preciso citar o velho chavão: "Amigo é pra essas coisas".
Estarei sempre por perto.
Abraço apertado.
Willyan, alucinatório rima com sanatório.
ResponderExcluirComo bem sabes, Artaud passou boa parte da vida em um hospício.
Sua lucidez era tamanha que a sociedade não o perdoou.
Obrigado pela visita e aquele abraço.