História de diretor teatral fracassado sempre me interessa, porque sou exemplo típico. Foi esse mote que me levou a assistir, na sessão de arte do Cinemark, no inglório horário das 14hs, ao filme Sinédoque, Nova York (EUA, drama, 124 min., 2008), do agora também diretor Charlie Kaufman, famoso por roteirizar filmes do lastro de Adaptação, Quero Ser John Malkovich e Brilho Eterno de uma Mente Sem Lembranças, para citar alguns.
Nestas poucas linhas tentarei explicar o inexplicável enredo do filme: Caden Cotard (Phillip Seymour Hoffman) é um dramaturgo e também diretor de teatro casado com a artista plástica Adele Lack (Catherine Keener). Dessa união, nasce Olive. Assim como a carreira, seu casamento vai desabando. A mulher e a filha pequena se mudam para a Alemanha com a desculpa de uma exposição e por lá ficam. Nesse ínterim, Caden ganha uma poupuda bolsa/patrocínio e resolve montar uma peça contando sua vida.
A partir daqui o filme dá uma guinada. Ninguém mais segura a imaginação e os delírios do roteirista/diretor Charlie Kaufman. O personagem Caden Cotard vai se perdendo no meio do caminho e a peça entra dentro de outra peça e os atores viram personagens reais que viram personagens da peça que precisam de outros atores para interpretá-los, e assim Kaufman cria um intrincado labirinto fílmico, que acaba atordoando e confundindo o espectador. Puro exercício audiovisual-semiótico-surreal.
Na minha ideia, Kaufman quis comunicar de uma forma não linear e não objetiva a própria existência humana, porque há um momento na vida que paramos e nos fazemos antigas indagações filosóficas que até hoje perturbam a humanidade: "O que é a vida? O que é a morte? O que é a existência?". Certamente, Kaufman está longe de responder essas questões, mas dá algumas pistas, mesmo sinuosas, quando Caden, velho e às portas da morte, quastiona a existência dele/nossa no planeta.
Como era de esperar, Philip Seymour Hoffman paga o ingresso na pele de Caden Cotard. Sinédoque, Nova York é para ser digerido aos poucos, de preferência num ritual antropofágico. Agora, não seria deselegante de minha parte - creio que não - pedir a Charlie Kaufman para reduzir o filme em meia hora.
Se perdemos um diretor teatral, ganhamos um crítico de cinema dos bons, dos que nos deixam com vontade de ver o filme... Pelo jeito, o filme é 'difícil', mas você falou com simplicidade e eficácia. Um abraço.
ResponderExcluirObrigado pela visita, Nivaldete. Sempre atento aos seus poemouros. Abração.
ResponderExcluir