quinta-feira, 6 de maio de 2010

O papel do artista plástico na sociedade: um esforço/esboço ensandecido

Obra de Dorian Gray Caldas
Obra de Newton Navarro

Qual é o papel do artista plástico na sociedade? Esta indagação pode não ser respondida, propriamente, neste esboço de ensaio nem no Dia do Artista Plástico, a ser comemorado à larga, em 8 de maio, pela Fundação Cultural Capitania das Artes, mas fica no ar como a espreitar nossa consciência. Levando-se em conta que arte é a revelação e manifestação da essência humana, esquecida em nossa efêmera existência cotidiana, o artista reflete sobre a sociedade, seja para criticá-la, afirmá-la ou superá-la. Arte é espaço. Artista, tempo. Desse coito entre arte e artista, nasce a obra pictórica, rebento iconográfico da nossa história quase sempre mal contada.


Em Natal, outrora Nova Amsterdam, a multiculturalidade papa-jerimum apoia-se desde sempre na fortaleza poligonal em forma de estrela de Gaspar de Samperes e na presença batava de Frans Post, Jorge Marcgrave e Albert Eckhout, desbravadores das nossas paragens/paisagens bio-etnográfico-geográficas.


Até onde a memória alcança e a história confirma, a nossa endovisão pictórica tem início com o classicismo de Moura Rabelo e a Art Déco/Noveau de Erasmo Xavier, extrapolando as divisas potiguares. Precursor modernista, Newton Navarro deglute as vanguardas europeias e regurgita uma nova arte autenticamente papa-jerimum. Abraham Palatnik ensaia o movimento perpétuo via arte cinética.


As digitais de Dorian Gray estão em telas, tapeçarias e painéis espalhados pela Londres nordestina, na expressão de Jomard Muniz de Brito. Há ainda o impressionismo de Thomé Filgueira e o expressionismo de Leopoldo Nelson, ontem. Hoje, o expressionismo reside em Wagner de Oliveira com suas mulheres cablocas do Assu. Debaixo da saia de Socorro Evangelista, destacam-se naturezas mortas vivíssimas. Já em Zaíra Caldas, mana do mestre Dorian Gray, desabrocha o transfigurativismo.


Cajus virgulados de castanhas infestam as telas de Vatenor de Oliveira. O possibilismo de Marcelus Bob e Ítalo Trindade também realça o fazer pictórico no burgo cascudiano. Gilson Nascimento ataca de realismo/naturalismo. Fernando Gurgel a tudo atento investiga e devassa a urbe com suas obras grávidas de significado.


O primitivismo ganha contornos com Djalma Paixão, Estelo, Iaperi Araújo, Jotó, Nivaldo e Thiago Vicente. Figurativismo é sinônimo de Fábio Eduardo e Valderedo Nunes. Assis Marinho franciscanonizado negocia quadros de bar em bar, enquanto que Carlos Sérgio Borges faz aquário das suas telas. Ah, Pedro Pereira cantarola um blues enquanto pinta o seu infinito mundo particular, e Marcelo Fernandes aglutina cores em giz. O grafismo encontra espaço na obra de J. Medeiros. E Helmut Cândido, no céu com seus diamantes e sua falsa demência, foi/é o mais lúcido impressionista louco da Cidade Alta.

4 comentários:

  1. Paulo,
    De aqui me sinto meio potiguar dagora em diante, poeta. Uma aula! Uma aula impressionante pelas curvas d'arte de Natal! Grato, amigo!

    Abraço quase-potiguar,
    Pedro Ramúcio.

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  2. Obrigadíssimo pelo encômio, meu caro Pedro.
    Coisa boa tê-lo no frio Nariz de Defunto.
    Venha correndo visitar a Noiva do Sol.
    Vale a pena.
    Ótimo fim de semana e aquele abraço.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Amigo Paulo Jorge

    Que beleza de texto, que beleza de informação!
    Fico-lhe muito, muito grata!
    Além de aprender, ainda tive um momento delicioso de prazer estético.
    Sua prosa é tão linda que traz, como brinde, poesia...

    Um forte abraço!

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