sábado, 31 de julho de 2010

"Be bop baby" de Mário Bortolotto

Lendário trompetista Dizzy Gillespie em foto de 1947


BE BOP BABY

Qual é a do trompetista
que dança de um jeito engraçado
que não sabe olhar o cardápio
que sempre perde no jogo de dados
e sempre canta a mulher errada
Qual é a do trompetista
que tem um gato gordo
que expele perdigotos
e não mede esforços
pra ser expulso do clube
Qual é a do trompetista
que dichava uns bops
e num golpe de sorte
ganhou uma passagem pra Miami
de uma loira peituda metida a madame
Qual é a do Negão
cheio de chinfra
dando uns tecos no orelhão da esquina
chamando gambé de “meu truta”
passando na cara um bando de puta
Qual é a do sacana escolado
mandando um ácido
passando um cagaço
no meio da viagem
jogando copos contra a parede
Afinal qual é a dele?

Qual é a do sujeito triste
mamado de whisky
chorando sozinho
tocando esse jazzinho
que só não me rasga o peito
porque já descobri que sou assim
torto e errado
meio whisky batizado
pó malhado de pirlimpimpim
Pra vocês meus amores
pra toda a vida e todo o sempre
O pior de mim
Mário Bortolotto

12 comentários:

  1. Que show, Paulo Jorge!
    Fico encantada com versos assim , cuja tristeza é disfarçada pela descontração, pelo bom humor, pela chiste espirituoso... Há uma angústia velada em todo o transcorrer dos versos...
    Não sei se o fato de eu estar atravessando um momento mais ou menos delicado, acentua demais, para mim, estes componentes...
    Lindíssima poesia, meu querido!
    Imenso abraço...

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  2. Paulo,
    Aqui jazz minha maior admiração, amigo...

    Abraço, semba e massemba:
    Pedro Ramúcio.

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  3. O Bortolotto é ácido por natureza.
    Não mudou muito depois dos balaços que por pouco não lhe tiram a vida.
    Amiga, espero que você consiga superar esse momento delicado.
    Qualquer coisa é só "gritar".
    Abraço dominical, queridíssima.

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  4. Ow, Pedro, estava sentindo a vossa falta cá neste Nariz de Defunto.
    Oxalá estejas bem.
    E vamos esquentar esses tamborins do semba poético.
    Abraço apertado.

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  5. Nem sempre reservo o pior de mim para os meus amores.

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  6. Um verdadeiro gatuno noturno, que vive o que aprende, e resiste à hipocrisia.

    Um forte abraço, Paulo!

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  7. putz...

    ... porque já descobri que sou assim
    torto e errado
    meio whisky batizado
    pó malhado de pirlimpimpim


    da nossa turma, paulo poeta...


    beijão,
    r.

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  8. Massa a visita, Willyan.
    Mande as ordens.
    Aquele abraço.

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  9. Bortolotto não desafina, Roberto das Minas.
    Parabéns pelo seu Cruzeiro.
    Prazerzão tê-lo aqui.
    Forte abraço.

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  10. "A banda atacou um blues sensual, o que fez com que minha amiga abrisse um sorriso do outro mundo. Ela passou a ser bolinada na frente de todos. Meu amigo abaixou a cabeça e saiu. Fiquei segurando meu copo de cerveja na mão. Nesse momento a cerveja já tava quente pra caralho. Quando minha amiga notou que o seu marido havia saído, seu rosto se encheu da tristeza mais verdadeira. É como se mais nada tivesse sentido na vida. Ela se abaixou e sentou na beirada do palco. A banda continuou tocando. Fui até a porta do bar. Lá fora, meu amigo conversava com algumas pessoas tentando disfarçar sua tristeza. Lá dentro minha amiga já não conseguia disfarçar porra nenhuma.
    Ao contrário do que dizem por aí, a noite não costuma acolher as pessoas mais tristes e solitárias."

    Um tipo de solidão, do blog Atire no Dramaturgo de M.Bortolloto.

    Jazzidas de beijos, JD.

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  11. Nanah, são cenas de um filme.
    Decupei todos os planos-sequência mentalmente.
    Obrigado, querida, pela visita.
    CARRADAS DE BJS PRA TI.

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