quarta-feira, 7 de julho de 2010

Gravemente Burroughs

Escritor William Burroughs vestido para matar
Fucei o blog Atire no dramaturgo, de Mário Bortolotto, e encontrei esse trecho de uma entrevista do escritor e artista plástico norte-americano, William Burroughs, a Daniel Odier, em 1966, que agora posto no Nariz de Defunto. Tirem suas conclusões. Se quiserem, claro.
Você já declarou que a família é um dos maiores obstáculos para o real progresso humano. Por quê?
Em primeiro lugar, família significa que as crianças são criadas pelas mulheres. Em segundo, significa que qualquer tipo de problema que os pais sofram – qualquer tipo de neurose ou confusão – é imediatamente passado para uma criança indefesa. Todo mundo considera que os pais possuam o direito de infringir nas crianças qualquer tipo de problemas perniciosos que sofram, e que por sua vez foram passados a eles pelos seus próprios pais. Então a humanidade é estropiada já na infância, e isso é feito pela família. Mais do que isso, as nações, os países, são meras extensões das famílias, e se existe algo que impede o progresso do mundo são as nações. Não iremos chegar em nenhum lugar enquanto essa unidade ridícula não seja desfeita. Existe uma série de meios para nos libertarmos da família. É claro, existe o mais óbvio que é separar as crianças dos seus pais biológicos ao nascimento e criá-las em creches públicas. Isso já foi proposto várias vezes, mas temos que considerar que tipo de treinamento e ambiente encontraremos nas creches públicas. Outra sugestão feita pelo senhor Brion Gysin, é que as crianças devam ser remuneradas por irem à escola. Em outras palavras, o quanto mais elas avançarem na educação, mais dinheiro acumularão. Isso, se feito desde a mais tenra idade, quebraria a dependência econômica das crianças por seus pais. O que realmente mantém as crianças presas aos seus pais é a dependência econômica e isso precisa acabar.

O que substituiria a família?
Nada. Não há nenhuma necessidade de possuirmos algo como a família.
(Trecho da entrevista de William Burroughs a Daniel Odier em 1966)

4 comentários:

  1. que achado, que riqueza, dusmareq! adoro burroghs e sua fome d'além comida.

    quanto à entrevista, ele podia ter bebido engels, mas é pra lá de anárquico. e eu tenho muito o que concordar.

    beijos.

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  2. Ô Paulo Jorge, salta aos olhos um certo ressentimento dele. Rs. Claro, sua relação com sua tradicional e rica família era conflituosa. Também impressiona a visão ingênua da psicanálise.
    Pô, essa questão rola há séculos, muito antes do advento da família burguesa, já está lá na República de Platão, na sociedade espartana, e, depois de seu advento, nos socialistas utópicos a la Saint-Simon etc. E parece que Burroughs tem pouco a acrescentar.
    Uma coisa me parece certa, na ausência da família, qualquer outra instituição (ou mesmo a inexistência delas)levaria a culpa. Rs. A expressão progresso humano sempre me causa um desconforto...

    Abraço.

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  3. Ótimo tê-la no Nariz, Nina.
    Melhor que rapé.
    Beijão.

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  4. Valeu a aula, Marcantonio.
    Nada a acrescentar.
    Forte abraço.

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