segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Amor feinho

A poetisa mineira Adélia Prado


AMOR FEINHO



Eu quero amor feinho.


Amor feinho não olha um pro outro.


Uma vez encontrado, é igual fé,


não teologa mais.


Duro de forte, o amor feinho é magro, doido por sexo


e filhos tem os quantos haja.


Tudo que não fala, faz.


Planta beijo de três cores ao redor da casa


e saudade roxa e branca,


da comum e da dobrada.


Amor feinho é bom porque não fica velho.


Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:


eu sou homem você é mulher.


Amor feinho não tem ilusão,


o que ele tem é esperança:


eu quero amor feinho.


ADÉLIA PRADO

12 comentários:

  1. Paulo,
    Adélia fica velha não, e como poucos sabe remoçar o poema essa moça mineira pra quem um dia, após ler uma resposta dela numa entrevista de jornal, eu compus, num susto:

    SANDÁLIAS PARA A POETA ADÉLIA PRADO
    ANDAR DESCALÇA

    _ Coisa boa de fazer é poesia!
    Boa para quem não faz.
    Se não for um Salmo: uma heresia.
    Não componho mais.

    Suponha-se a rima feliz,
    E a dor de quem a cria?
    Psiu! Palavras são armas vis,
    Disse-me certa vez uma cotovia.

    Feito o verso, no limbo jaz.
    Escrita, está torta a ortografia.
    Portanto não componho mais,
    De mim mais nenhuma algaravia.

    (Pedro Ramúcio)

    *

    É um prazer enorme passear-me entre teus escritos e escritores preferidos, poeta porreta de Potengi.

    Abraço mineiro,
    Ramúcio.

    ResponderExcluir
  2. Ah, Paulo Jorge, meu querido...
    Além de compor magníficos poemas, ainda seleciona cada coisa maravilhosa!
    Adélia Prado...
    Que dizer, a não ser: grata, meu amigo, por repartir comigo esta riqueza!
    Grande abraço!

    ResponderExcluir
  3. "Uma vez encontrado, é igual fé,
    não teologa mais."

    Formidável!

    Abração, Paulo Jorge.

    ResponderExcluir
  4. "amor feinho"
    é belíssimo
    ...
    E raro!

    Forte abraço,
    camarada.

    ResponderExcluir
  5. Adélia é mesmo incrível, Paulo Jorge!

    E de uma simplicidade...
    Não conhecia o "Amor feinho". Lindo!

    "Planta beijo de três cores ao redor da casa
    e saudade roxa e branca,
    da comum e da dobrada."

    Beijinhos, querido!

    ResponderExcluir
  6. Meus agradecimentos aos amigos e irmãos de letras Cris, Francisco, Pedro, Insana, Tétis, Zélia, Marcantonio, Domingos e Pólen, pelos comentários.
    Abraços e bjs.

    ResponderExcluir
  7. Paulo, que trem bão esse "amô feinho"... igual a colo di mãe, primeiro beijo, comida di vó, pão di queijo, água de bica e fogão à lenha.
    Só posso agradecer esse momento especial em que vc me fez sentir uma alegria genuína lendo os versos da Adélia.
    Além de um grande poeta, é generoso por compartilhar beleza conosco.
    Beijokas.

    ResponderExcluir
  8. Poxa, Lua, obrigado pelas palavras.
    Confesso que não mereço tanto.
    Agradeço a sua visita e comentário.
    Felicidades e bjs mil.

    ResponderExcluir