terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Não há antídoto contra "A Erva do Rato"


Não. Não há antídoto contra a erva do rato, o veneno. Também não há contra A Erva do Rato (Brasil, 2008), filme de Júlio Bressane em cartaz na Sessão de Arte do Cinemark Midway Mall. "Citar Artaud..., via Oiticica, ...cura = veneno" Bressane continua o mesmo. Não se rende ao cinemão de publicitários que assola o Brasil. Seis pessoas na sala e eu pensando na ousadia de um artista acreditar num projeto audiovisual que será totalmente ignorado pela massa medíocre e ignara e TALVEZ elogiado pela crítica e por algumas testemunhas pingadas.
O filme é lento, metafórico, difícil, como todo Bressane que se preze. Livremente inspirado em “A Causa Secreta” e “Um Esqueleto”, de Machado de Assis, funde dois elementos dos contos: a relação do homem com a morte e a incompreensível relação que estabelece com os animais. Ele (Selton Mello) e Ela (Alessandra Negrini) se encontram num cemitério à beira-mar. Os pronomes são seus nomes. Ela, professora, com o pai morto há apenas três dias, não tem mais ninguém no mundo. Diante de tal situação, Ele se propõe a cuidar d’Ela enquanto for vivo. Este é o início de uma estranha relação.
Os dois se trancam numa casa e Ele passa a ditar verbetes de dicionário para Ela escrever. Em seguida, tem início uma longa sessão de fotografias, quando seios, coxas, bumbum e xana de Negrini são mostradas artisticamente. Por mim, preferiria que a sessão fosse mais hardcore. Não sou fã de nu artístico. Depois disso, um impertinente rato começa a roer as tais fotografias. Ele, o homem, ensopa a casa de ratoeiras de todos os tamanhos e nada do rato resolver comer o queijo e se ferrar. O rato quer comer Ela. E come. E como. As sequencias do roedor passeando pelo corpo e fazendo sexo com a protagonista são de arrepiar. Puro Bressane. Ela se excitando e gozando e levando junto as testemunhas do filme. Concluindo, Ele inicia outra sessão de fotos. Dessa vez com um esqueleto, humano. Júlio quis jogar com os dois símbolos que mais causam ojeriza à humanidade: o rato e o esqueleto. Mas, calma. Não é um filme escatológico como o detestável A Mosca, por exemplo, que embrulhou meu estômago.

A Erva do Rato não tem nenhum destaque especial esteticamente falando. Minto, desculpem. Tem sim: Alessandra Negrini. Mas o que interessa para Bressane é a simbologia das imagens. Signos fílmicos eisensteinianos. Em suma, semiótica. É essa palavrinha o sustentáculo da obra bressaniana, desde o clássico udigrudi O Anjo Nasceu. Inclusive a trilha é pelo mesmo maestro e compositor Guilherme Vaz. A bela direção de fotografia está entregue ao mestre Walter Carvalho. Já as atuações de Selton e Alessandra são medianas, frias, distantes, como o filme. Sem fogo. A Erva do Rato não é para todo mundo. É só para quem tem algum negócio com o cinema de Bressane. Particularmente, prefiro a erva do diabo. Ah, este post/isto posto não é uma crítica. Apenas um comentário, crítico.

2 comentários:

  1. Pois vá se acostumando que filmes no Brasil só vão pra frente com roteiros apelativos e falas massantes. O cenário está mudando graças aos céus e a cultura do povo devargar também vai.
    Crítica ou comentário crítico, parabéns já que o foco principal foi conseguido: acrescentar visões sobre um mesmo tema.
    Muito bom!

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  2. Natácia, é aquela história do ideário marxista: da quantidade vem a qualidade. Sempre aposto no (bom) cinema nacional. Tem qualidade. Abs.

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