sexta-feira, 16 de outubro de 2009

"Coração vagabundo" desnuda universo particular de Caetano

Caetano Emanoel Viana Teles Veloso é um artista singular. E genial. Mais do que isso: um ser humano fascinante e com ideias próprias e originais sobre quase tudo. E é sobre "quase tudo" que Caetano discorre no documentário Coração Vagabundo (Brasil, 60 min, 2008), resultado sintetizado de 56 horas de material audiovisual. A câmara do diretor Fernando Grostein Andrade devassa a intimidade do artista, acompanhando-o na turnê de divulgação do álbum A Foreign Song, por São Paulo, Nova York e Japão, entre 2003 e 2005. Diante da câmara, o filho de Santo Amaro da Purificação se prepara nos bastidores e confessa alguns momentos de insegurança – como quando lamenta supostas falhas no seu inglês numa entrevista no rádio.
Andando pelas ruas de Nova York e Osaka, ele dispara comentários sobre sua formação, polemiza à distância com Hermeto Paschoal e encontra fãs estrangeiros capazes de cantarolar suas músicas. São ouvidos sobre ele amigos e admiradores como Pedro Almodóvar, que o escalou para uma cena de seu filme Fale com Ela, David Byrne e Michelangelo Antonioni – que recebeu do compositor uma música em sua homenagem, antes de morrer, em julho de 2007. Aliás, a aparição de Antonioni em idade avançada é comovente.

Despretensioso, o documentário produzido por Paula Lavigne era para ser um making of da turnê do álbum de clássicos do cancioneiro americano ou um DVD com um concerto ao vivo. Em Nova York, o cantor se prepara para cantar no Carnegie Hall junto a David Byrne (ex-Talking Heads). Ele relata a dificuldade que teve ao falar a um programa de televisão. O cantor ainda discorre sobre a influência americana na música mundial e contesta uma entrevista de Hermeto Pascoal, que o chamou de "musiquinho" e disse que a música brasileira é mais importante do que a americana. Por sua vez, Caetano (re)afirma que a música america e a cubana são superiores à música brasileira.

Nos camarins, após o show no Carnegie Hall, Caetano recebe a übber model Gisele Bündchen e se encanta. "Me dá o telefone da Gisele, Paula", pede à esposa, que nega enciumada. No Japão, o cantor se aproxima de um penhasco e começa a relatar que sua vida pessoal o deixa triste. O fim do casamento com Paula Lavigne é a resposta. Em certo momento, Caetano fala que não gostaria de morar fora do Brasil, mas, caso tivesse de se mudar, moraria em Nova York ou em Madri. Almodóvar dá seu depoimento. Fala que Paula é uma inspiração para seus personagens. "Ela é forte, exuberante, decidida", diz o cineasta. Além das imagens das apresentações, o diretor Fernando Andrade deixa o músico livre para dissertar sobre a saída de sua cidade natal, o sucesso no exterior, a relação com Almodóvar, a separação de Paula Lavigne e o completo desprezo pelas religiões.

Caetano não espera; já está falando de novo.

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