sábado, 3 de outubro de 2009

Tempos de paz surpreende pelas atuações convincentes




Rio de Janeiro. Abril de 1945. Estertores da II Guerra Mundial. Os combates já cessavam na Europa, mas o Brasil ainda estava "tecnicamente" em guerra. Para fugir do confronto, imigrantes europeus chegam aos montes à "terra prometida", indo diretamente para o porto do Rio. É lá que os aguarda Segismundo (Tony Ramos), interrogador alfandegário e ex-torturador da polícia política de Getúlio Vargas. Por falar o português, o ex-ator polonês Clausewitz (Dan Stulbach) é detido na sala de imigração do porto, onde se desenrola um combate particular entre ele e Segismundo. Como se não bastasse recitar poema de Carlos Drummond de Andrade, em bom português, Clausewitz é ainda confundido com um nazista fugitivo.

O fim da Guerra, por ironia do destino, é o que tira a paz de Segismundo. Ele teme a vingança de seus ex-torturados. E hoje chefe da imigração na Alfândega do Rio de Janeiro, Segismundo é quem decide quem entra ou não no país. Clausewitz, que conseguiu escapar do nazismo depois de conhecer e experimentar os horrores da guerra, terá que usar todo seu talento de ator para provar que não é um seguidor de Hitler. O filme retrata um período crítico da história brasileira, a Era Vargas.

Tempos de paz (Brasil, 2009) é filme que prende a atenção do espectador do início ao fim. Com atuação impecável de Dan Stulbach e também de Tony Ramos, com todo mérito, o filme vai crescendo em dramaticidade até o ex (?) ator Clausewitz conseguir o tão sonhado carimbo no passaporte ao fazer Segismundo chorar, ao ser desafiado pelo próprio, interpretando trecho de uma peça do dramaturgo espanhol Calderón de La Barca. A sequência explicitamente teatral é tocante e impressiona pelo realismo e verdade que o ator Dan Stulbach emprega. Interpretação digna de prêmio internacional.

Adaptado para o cinema pelo veterano diretor Daniel Filho, a partir da peça teatral homônima do dramaturgo Bosco Brasil, que também assina o roteiro, Tempos de paz toca pela mensagem de esperança num mundo melhor e menos hipócrita, pela direção e atuação do elenco, incluindo ainda o próprio diretor Daniel Filho (Doutor Penna) e Louise Cardoso (Clarissa). Antes dos créditos subirem, são mostradas fotos e a identificação de vários imigrantes que vieram dos seus países para o Brasil fugidos da guerra, entre eles o ator e diretor polaco Zbigniew Ziembinski (1908 - 1978), o homem que revolucionou o teatro brasileiro, propositalmente o último a aparecer. Tocante. Como o filme.

Um comentário:

  1. Paulo, suas críticas são "transparentes"
    essa em especial nos insere com objetividade dentro do universo do filme, fiquei
    tentada e curiosa!
    adoro a direção de Daniel Filho.
    Bravo, a vc pela bela crítica e ao "Tempos de Paz"
    abraço grande.

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