domingo, 15 de novembro de 2009

A "Meca" pessoal e intransferível de Cleide Yáconis

Numa cidade como Natal, onde o teatro é tratado como artigo de quinta categoria, é difícil assistir a um bom espetáculo local e mesmo de outras partes do Brasil, vez que o grosso da produção que vem para a cidade - quando vem - é constituído de espetáculos caça-níqueis, geralmente com atores e atrizes sem talento do Projac.

Essa rotina foi quebrada neste fim de semana, de 13 a 15 de novembro, pela minitemporada do espetáculo "O Caminho Para Meca", protagonizado pela atriz Cleide Yáconis, que juntamente com Fernanda Montenegro e Nathália Thimberg, representam, na minha concepção, a trinca de "damas" do teatro brasileiro. Era desejo antigo ver Cleide Yáconis em cena. Em que pese a voz está por um fio - a atriz conta com 84 anos de idade - deu para testemunhar a técnica apurada, a leveza da interpretação, a fé cênica e a generosidade da irmã de Cacilda Becker, ao emprestar corpo, voz e mente para Helen Martins, uma escultora sul-africana não convencional tanto na arte como na vida.

A personagem é inspirada em Helen Elizabeth Martins, autêntica artista outsider nascida e criada em uma pequena comunidade branca da África do Sul, no meio do deserto. Helen é uma mulher de costumes conservadores e cultos obrigatórios da fé protestante. Ao mesmo tempo em que descobre nunca ter amado o bom homem com quem foi casada, abandona a igreja dos domingos porque deixou de crer e, ao ficar viúva, encontra em suas mãos de escultora o caminho de sua liberdade pessoal e a felicidade de criar sua "Meca".

Helen recebe a visita da amiga Elsa – vivida pela ótima atriz Patrícia Gaspar – admiradora de suas obras, e também do pastor local, interpretado pelo ator Cacá Amaral, que se preocupa com sua ausência na igreja e na pequena vila. Por meio desses encontros, os três discutem temas como a vida, a solidão, o talento, as dificuldades da idade, a amizade e a confiança dos personagens, afora o apartheid. Humano, demasiadamente humano.

Com direção segura de Yara de Novaes, "O Caminho Para Meca" dá uma chance a mais ao espectador de conhecer melhor sua condição humana entre humanos. O cenário é projetado com paredes imaginárias, deixando à mostra os ambientes e os objetos de cena, e a luz merece destaque especial pela sutileza. Uma boa iluminação, a mais das vezes, tem que ser concebida e operada com muita discrição, destacando nuances da encenação e das passagens de tempo
A boa escrita do texto é pelo dramaturgo sul-africano Athol Fugard – um dos mais importantes da língua inglesa na atualidade. Por suas várias qualidades, "O Caminho Para Meca" é um espetáculo que vale a pena ser visto. Para quem gosta de bom teatro ainda dá tempo de conferir a peça hoje (15), às 20 horas, no Teatro Alberto Maranhão. É bom frisar que a récita tem o patrocínio do Banco do Brasil, por meio do Centro Cultural Banco do Brasil itinerante.




2 comentários:

  1. Vi esta peça..no Festival de Teatro de Rio Preto São Paulo
    patrocinado pela Petrobras..

    Vale a pena ver esta fantástica atriz. Já tem 83 anos...e além do mais a obra notável de Athol Fugard.. e um mergulho em profundidades abissais da mente humana..desta notável , e desconhecida para nós Brasileiro s da sul africana Helen Martins..

    Pedro

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  2. Pedro, foi uma ótima experiência teatral. Adorei de verdade. Abraço.

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